‘Falhamos em nossos esforços’, diz executivo da NII, dona da Nextel

13/08/2014

Fonte: Valor Econômico | 12.08.2014
Por Ivone Santana

 

A dificuldade da NII Holdings, controladora da Nextel Brasil, de melhorar seus resultados e lidar com uma enorme dívida, principalmente no país, pode levar a companhia a um processo de recuperação judicial nos próximos meses. A hipótese foi levantada pela própria operadora americana nas demonstrações financeiras do segundo trimestre e, para analistas, esse caminho é provável.

“Apesar das ações que tomamos para melhorar nosso desempenho operacional, falhamos em nossos esforços, deixando a companhia com uma posição de liquidez que não é suficiente para sustentar o negócio”, escreveu Steve Shindler, presidente-executivo da NII Holdings, no relatório que acompanha o resultado. A dívida líquida estava em US$ 4, 75 bilhões no fim de junho.

O prejuízo líquido da NII Holdings mais que dobrou de abril a junho, na comparação com um ano antes, para US$ 623,3 milhões. A perda de 5,6% de seus usuários, em uma base agora em 9,4 milhões de assinantes, e a queda da receita média por assinante (de US$ 36 para US$ 28) na comparação anual, contribuíram para a queda de 23% da receita, para US$ 968,8 milhões.

No Brasil, a empresa passou de um lucro de US$ 107,3 milhões no segundo trimestre de 2013 para perdas de US$ 56,2 milhões em igual período deste ano. A base de usuários aumentou 8%, para 4,2 milhões, mas a receita média por assinante passou de US$ 43 para US$ 30, na relação anual. Ainda que a venda de aparelhos tenha ajudado a ofuscar parte da queda da receita com serviços, o faturamento caiu 17%, para US$ 479,4 milhões.

“O desempenho financeiro continua a refletir a deterioração da base de receita”, disse Juan Figuere o, diretor financeiro da NII Holdings, no relatório de resultado. A empresa tem que competir com América Móvil e Telefónica, que usam a tecnologia sem fio 3G e 4G em grandes mercados da América Latina, com velocidade mais rápida em planos de internet.

Sem força para entrar na briga com grandes operadoras, a NII Holdings decidiu intensificar os planos de redução de custos e conversa com credores para uma possível reestruturação da dívida, mas a tarefa é difícil.

Para o BTG Pactual, a recuperação judicial é o desfecho mais provável para a NII Holdings, que apresentou no segundo trimestre “os piores resultados operacionais da história”. O banco afirma que deixará de cobrir a ação, tanto pela possibilidade de a companhia entrar em recuperação judicial, quanto pelo pequeno valor que restou aos acionistas. A recomendação era de venda e o preço-alvo de US$ 3,50, mas a ação acabou reduzida a apenas alguns centavos neste ano.

No Brasil, a NII Holdings tem uma dívida de US$ 443,1 milhões com bancos locais, cujo vencimento es tá programado para esta sexta-feira (15). Se não honrar esse empréstimo ou as cláusulas de limite de endividamento até 31 de dezembro, os donos de 25% das notas seniores emitidas pela companhia teriam o direito a pedir o repagamento de debêntures. A recuperação judicial permitiria renegociar as dívidas com um prazo mais longo, sem que os credores avançassem sobre o patrimônio.

A venda de ativos estratégicos também é uma das opções para a NII Holdings. Em março, a companhia contratou o banco de investimento UBS como conselheiro para explorar opções estratégicas para o futuro dos negócios. Em documento enviado à Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos, a empresa diz não descartar opções estratégicas como parcerias, acordos de serviços e venda de ativos no Brasil e no México, responsáveis por 87% das receitas operacionais totais da companhia.